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Ao contrário dos meus colegas, participei, no meu 9.º ano, no Concurso Nacional de Leitura. Coube-nos, nesse ano letivo, apenas, ler os livros escolhidos a concurso e analisá-los sozinhos, sem discutir ideias uns com os outros. Eu apenas conhecia de vista os colegas que, tal como eu, participavam neste projeto. Entre nós não havia uma ligação, nem companheirismo, mas, apenas, uma espécie de rivalidade, porque o nosso objetivo principal era ir a concurso. Aquilo que absorvíamos do processo de leitura, a aprendizagem que fazíamos uns com os outros, o prazer do ato de folhear o livro, lê-lo e compreendê-lo era quase inexistente. Líamos só por ler, como quem lê uma revista ou um manual de História A. Não retínhamos conhecimentos, nem decifrávamos enigmas escondidos nas entrelinhas. Agora, no meu último ano do ensino secundário, participo, novamente, neste concurso. Desta vez, sinto que esta experiência é revigorante e que estou a apreender muito. Nós criamos um grupo de leitura, encontramo-nos todas as semanas para discutirmos ideias sobre as obras que vão a concurso e não só. Esta partilha entre nós possibilitou captar melhor a essência de cada livro e as emoções que estes nos transmitem. Fez crescer, entre os membros do nosso círculo, uma amizade e conexão. Nós ficamos horas na biblioteca entretidos com conversas interessantíssimas. Descobrimos muito mais em equipa do que sozinhos. A minha experiência neste projeto é, também, uma descoberta de mim e do meu autoconceito, o que promove o pensamento. Isto deve-se ao diálogo intensivo que estabelecemos, quando analisamos, em todas as sessões, as personagens e as suas características psicológicas, fazendo com que eu me identifique com elas. Isto ajuda-me não só a entendê-las, mas, também, a entender-me. Muitas vezes, as pessoas focam-se demasiado nelas próprias, esquecem-se que existem outros “eus”. Penso que esta é uma das razões para que haja tensões. A verdade é que é complicado pormo-nos no lugar dos outros, percebê-los e compreender as suas perspetivas em relação às mais variadas coisas e situações. É ainda mais difícil quando aquilo que eles apregoam como o correto anula aquilo em que acreditamos. Sinto que este Clube de Leitores fomentou em mim a alteridade e a entreajuda. Cada vez que me encontro com os meus companheiros, o meu espírito crítico é estimulado, desenvolvo competências em mim que eu desconhecia e aprendo a perceber os outros, as suas perspetivas e entendo como expressar melhor os meus pontos de vista.

Penso que hoje em dia a sociedade promove cada vez mais a competição desmedida cuja principal intenção é quase que ´´eliminar`` os nossos adversários, e isso é mau… Em contraste com esta realidade, o projeto de comunidade de leitores presencial na biblioteca favorece uma competição saudável, com o objetivo de aprendermos uns com os outros .

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(Maria Leonor, aluna, Escola Secundária Leal da Câmara)

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